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terça-feira, março 07, 2006

E num lugar onde os mantenedores das leis corrompem seus próprios corrompedores, quem combaterá a corrupção?

De João Paulo Magalhães

Sempre que vou, ou volto, a minha pequena cidade no interior pernambucano, a grande Surubim, fico, no mínimo, constrangido, pra não dizer enraivecido, enfurecido, revoltado ou talvez pior, com o nível de corrupção a que chegaram as "instituições" e o povo brasileiro.

Acontece que, na maioria das vezes, vou de transporte alternativo, as populares toyotas, e que existem muitas barreiras policiais nos curtos 120 km de distância. Nada a se reclamar até ai não fosse o que acontecem nessas paradas, e hoje foram três. São paradas rápidas em que, por padrão, o motorista desce do carro e entrega o documento do mesmo ao policial que nem olha para ele, só o abre e tira a quantia de dinheiro previamente colocada em seu interior.

E isto acontece numa naturalidade que me assusta. Em meio as piadinhas de alguns dos passageiros quando da volta do motorista, atrevi-me a perguntar a quantia do "suborno". R$ 2,00 é valor da transação. Isso se for policial estadual, porque se for policial federal ai a tabela sobe para os R$ 5,00, porém estes não param todos os carros por pura falta de pessoal.

Notável é o nível de corrupção a que chegamos. Não existe mais somente a corrupção entre corrompedor e corrupto. Num nível mais avançado os aplicadores das leis corrompem a si e àqueles que não deveria deixar corromper.

Passei a viagem pensando sobre os acontecimentos que vinham em média a cada meia hora. Se fazem isso por tão pouco, se se vendem por migalhas, se destroem a instituição a qual pertencem, se se humilham por tal valor, o que não fariam por uns bons trocados? Mas quem sou eu pra julgar os atos, e talvez necessidades, daqueles que se prostituem na beira das estradas brasileiras tal qual a puta logo ao lado? 'Melhor pedir que roubar', já dizia o sábio menino da mesma estrada tentando abusar da minha ingênua, porém nunca maleável, solidariedade.

E nesse meio onde se confundem policiais rodoviários, crianças miseráveis pedindo esmolas e mulheres vendendo seu corpo não distingo mais quem são as prostitutas da história, algum(ns) deles ou nós, que podemos até não vender nosso corpo mas o que dizer da nossa consciência, da nossa forma de organização social, dos nossos meios e, principalmente, do nosso fim???

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Eu me assustei da primeira vez que vi uma cena como essa. Voltando de Itamaracá, peguei uma kombi para atravessar a ponte e lá pegar um ônibus para voltar ao Recife. Nesta ponte os policiais pararam a kombi e seu motorista colocou uns trocados no pacote dos documentos e entregou ao policial..

Mas existem outras situações ainda mais próximas.. E quando você pega aquele ônibus já perto do terminal e que o cara diz "dá só 1 real mesmo e fica aí"? Dar dinheiro pro cobrador e incentivar esse tipo de corrupção ou dar para a empresa que vive sugando os milhares de usuários de seu sistema?

04 maio, 2007 01:26

 

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